O autor deste artigo é muçulmano. O seu testemunho não vale nem mais nem menos por causa disso. Talvez valha a pena ouvir o que ele tem para dizer. É pena é que estes artigos jamais cheguem ao grande público, pois os media institucionais boicotam-nos activamente.
Título original: “What’s on a Muslim Refugee’s Mind?”
O Outono de 2015 foi invulgar em quase todos os sentidos na Ilha grega
de Lesbos, de onde vos escrevo. Havia dezenas de milhares de migrantes ilegais
na ilha, cuja população nativa era de apenas 100.000 pessoas. Novos refugiados
chegavam todos os dias aos milhares. [1]
Uma noite, o céu ficou azul-cinza logo após o pôr-do-sol. As nuvens
grossas enrubesceram e a chuva caiu sobre a cidade com um rugido. Enquanto
atravessava o pavimento escorregadio no bar de um amigo, ouvi um grupo de cinco
almas que falavam Persa com um sotaque turco e buscando abrigo sob os beirais
de um prédio.
Mais ou menos uma hora depois encontrei-os na frente do bar do meu
amigo, totalmente encharcados. Saí e perguntei se eles falavam inglês; eles
sacudiram a cabeça. Perguntei-lhes em Turco se eles falassem Turco. Com os olhos a brilhar, três deles alegremente disseram: "Evet!" ["Sim"
em Turco]. Eu disse que eles poderiam entrar no bar se quisessem. Eles
hesitaram, mas recusaram educadamente. Perguntei se precisavam de comida, água
ou cigarros.
O que era mais fluente em Turco deu um passo à frente. Tirou um maço de
notas do bolso e disse: "Se você realmente quer ajudar, encontre-nos um
hotel. O melhor, se possível. Temos dinheiro. O dinheiro não é problema.
Encontre-nos um hotel e nós lhe pagar-lhe-emos uma comissão". Ele explicou
que todos os "malditos" hotéis da ilha estavam cheios [de refugiados]
e eles precisavam de quartos.
Pedi desculpas e desapareci no bar.
Porque é que milhões de muçulmanos arriscam tudo para alcançar uma
civilização que culpam por todos os males do mundo?
Quase dois anos depois, numa linda e quente noite de Verão, conheci A.
num bar na mesma ilha. A., um refugiado sírio, muitas vezes passa as suas
noites no bar com os seus amigos ocidentais. Esses amigos são na sua maioria assistentes
sociais europeus românticos que, observei várias vezes, usam t-shirts, bolsas e laptops enfeitados com a bandeira “palestina”. Eles estão
na ilha para ajudar os infelizes refugiados muçulmanos que estão a fugir da
guerra nos seus países de origem.
"Eu vou dizer-te, estritamente de muçulmano para muçulmano",
disse A. em bom Inglês depois de ter emborcado alguns shots de whisky.
"Estes (assistentes sociais europeus) são tipos engraçados. E eles não são
apenas engraçados. Eles também são burros. Não sei porque carga de água é que eles
estão apaixonados por uma causa muçulmana de que mesmo alguns muçulmanos
desprezam".
No ano passado, três afegãos pararam em frente da minha casa na mesma
ilha e pediram água potável. Dei-lhes três garrafas e perguntei se eles
precisavam de mais alguma coisa. Café? Eles aceitaram e sentaram-se nas
cadeiras de jardim.
Após o café, eles disseram que estavam felizes de serem hospedados
"não por um infiel nesta ilha infiel", mas por um muçulmano. O jovem
afegão que estava vestido como um dançarino de hip-hop barato da MTV, disse:
"Um dia, nós, bons muçulmanos, conquistaremos as terras infiéis".
Perguntei porque é que ele estava a receber dinheiro "infiel" para
viver cá. "É meramente halal", respondeu ele. "Eles [os 'infiéis']
são muito fáceis de enganar".
M., outro fluente em Inglês, de língua nativa Síria, deu-me uma longa
palestra sobre a maravilhosa governança do presidente turco, Recep Tayyip
Erdoğan. "A Turquia é o melhor país do mundo!", Disse M.. "Erdoğan
é o líder da ummah". Perguntei porque arriscou ele a sua vida a
atravessar ilegalmente do "melhor país do mundo" para as "terras
pobres e infiéis".
"Eu quero ir para a Europa para aumentar a população muçulmana lá", disse ele. "Eu quero constituir uma família muçulmana lá. Eu quero
ter muitas filhos".
Eu lembrei-lhe que a Grécia também é um país
europeu. "Não, não é" - respondeu ele.
Quase todos os migrantes ilegais na Grécia querem chegar à Alemanha,
onde serão mais bem pagos.
Quase todos os imigrantes ilegais aqui e em outras ilhas gregas querem
chegar à Alemanha, onde ouviram de amigos e parentes que serão mais bem pagos
por serem refugiados "pobres".
O cliché "as
pobres-almas-estão-a-fugir-da-guerra-no -seu-país-nativo" está a tornar-se
cada vez menos convincente de dia para dia. Na verdade, a maioria dos sírios
fugiu para a Turquia depois do início da guerra civil no seu país. Mas porque arriscaram
eles as vidas para se espremerem em barcos de borracha de 12 homens com 40-50
outras pessoas, incluindo crianças e idosos? Por causa da guerra na Turquia?
Não. Apesar da instabilidade política e da insegurança para todos, não
há tecnicamente nenhuma guerra na Turquia. É um país muçulmano, cujos
imigrantes, principalmente os muçulmanos, querem deixá-lo o mais rápido
possível para virem para a Europa não-muçulmana.
Eles alcançam as ilhas gregas, que são tão bonitas que pessoas de todo
o mundo voam para lá para passarem as suas férias. Mas as ilhas não são boas o
suficiente para os refugiados. Eles querem ir para Atenas. Porquê? Porque há
guerra nas ilhas gregas? Não. É porque Atenas é o início da rota de saída para
os Balcãs.
Aplica-se a mesma lógica para a Sérvia, a Hungria e a Áustria. Como a
Grécia, nenhum desses países será suficientemente bom para os refugiados. Porque
não? Porque há guerra na Sérvia ou na Hungria ou na Áustria? Ou porque "o meu
primo diz que os alemães pagam o melhor?".
Os líderes da Turquia muitas vezes ameaçam a Europa de que
"abrirão os portões" e inundarão a Europa com milhões de refugiados.
Eles deveriam perguntar-se porque é que esses refugiados muçulmanos estão tão
ansiosos para deixar o "novo império turco" se tiverem a chance. Porque escolheriam eles não viver uma vida
confortável num país muçulmano poderoso e pacífico e, em vez disso, virem viver
para o Ocidente "infiel"?
Erdoğan culpa o Ocidente pela tragédia. Ele criticou o Ocidente por ter
levado apenas 250 mil refugiados sírios. Em 2016, o primeiro-ministro turco,
Ahmet Davutoglu, disse que os cinco membros permanentes do Conselho de
Segurança das Nações Unidas (EUA, Rússia, Grã-Bretanha, França e China) devem
pagar o preço, e não os vizinhos [muçulmanos] da Síria.
É irónico que milhões de muçulmanos estejam a tentar, através de meios
perigosos, alcançar as fronteiras de uma civilização que historicamente culpam por
todos os males do mundo, inclusive os dos seus próprios países. O ocidente
"romântico" não questiona porque é que milhões de muçulmanos que o
odeiam vêm na sua direcção. Ou é "islamofóbico" apontar que não há
guerra na Grécia, na Sérvia, na Hungria ou na Áustria?
- Burak Bekdil é um analista político baseado em Ancara e membro do Fórum
do Médio Oriente.
[1] No final de Julho de 2017, o número de refugiados e migrantes na
Grécia à espera de obter asilo caiu para 62.407. As cinco ilhas do mar Egeu
(Lesvos, Chios, Samos, Kos e Leros) são actualmente lar de 15.222 requerentes de
asilo e migrantes.
Um bocadinho de colorido ambiente:
Faça que o governo mande á todos, de volta para seus países de origem!
ResponderEliminarAbsolutamente! Refugiados bem-vindos seriam os cristãos, que eles lá estão a chacinar. Mas esses raramente cá conseguem chegar, que eles atiram-nos aos tubarões pelo caminho, mesmo que tenham conseguido pagar aos passadores.
EliminarOdF