O cardeal Joseph Zen disse que o acordo recentemente assinado entre o Vaticano e a China sobre a nomeação de bispos significa a "aniquilação" da Igreja na China.
Num artigo para o New York Times intitulado "O Papa não entende a China", o cardeal Zen - o bispo aposentado de Hong Kong - especulou que o novo acordo, que concede um papel não especificado na nomeação de bispos ao Partido Comunista da China (PCC), é fruto da ingenuidade do Papa Francisco.
"Francisco tem simpatia natural pelos comunistas porque, para ele, eles são os perseguidos", escreveu Zen. "Ele não os conhece como os perseguidores que eles se tornam no poder, como é o caso dos comunistas na China."
E, embora os defensores do acordo digam que este traz união após uma divisão antiga entre a Igreja subterrânea leal ao Papa e a Igreja "oficial" aprovada pelas autoridades chinesas, na realidade, este é "um grande passo em direcção à aniquilação da Igreja real no país", disse Zen.
"O Papa Francisco, argentino, parece não entender os comunistas", acrescentou Zen, talvez por causa da sua experiência na América do Sul, ele vê-os como defensores dos pobres contra os opressores.
O cardeal lembrou que depois de a China ter rompido relações com o Vaticano na década de 1950, católicos e outros crentes foram presos e enviados para campos de trabalho.
“Voltei para a China em 1974 durante a Revolução Cultural; a situação era terrível além da imaginação. Uma nação inteira sob escravidão. Esquecemos essas coisas com muita facilidade”, disse Zen.
"Também esquecemos que nunca podemos ter um acordo realmente bom com um regime totalitário", disse ele.
O começo do fim, disse ele, foi quando o cardeal eslovaco Jozef Tomko "que entendia o comunismo" foi substituído em 2002 por um "jovem italiano sem experiência estrangeira" na supervisão do trabalho missionário internacional da Igreja.
O recém-chegado "começou a legitimar os bispos oficiais chineses com muita rapidez e facilidade, criando a impressão de que agora o Vaticano apoia automaticamente a selecção de Pequim", disse Zen.
"Hoje, temos o Papa Francisco", disse Zen. "Naturalmente optimista em relação ao comunismo, ele está a ser encorajado a ser optimista em relação aos comunistas na China por cínicos ao seu redor que sabem manipulá-lo".
Diante da experiência recente, o cardeal disse que reviu as suas opiniões anteriores sobre as escolhas de assessores do Papa.
"Eu estava entre os que aplaudiram a decisão de Francisco de nomear Pietro Parolin como secretário de Estado em 2013", disse ele. “Mas agora penso que o cardeal Parolin se importa menos com a Igreja do que com o seu próprio sucesso diplomático. O seu objectivo final é a restauração das relações formais entre o Vaticano e Pequim.”
Zen também comparou a China à situação em Cuba, onde uma visita de Francisco em 2015 conseguiu pouco mais que propaganda mediática.
“O que é que a visita de Francisco a Cuba em 2015 trouxe à Igreja? Ao povo cubano? Quase nada. E ele converteu os irmãos Castro?", Zen pergunta rectoricamente.
O que o novo acordo realmente alcançará, adverte Zen, é a supressão dos bons bispos da Igreja clandestina que são fiéis a Roma.
"O acordo do Vaticano, firmado em nome da unificação da Igreja na China, significa a aniquilação da Igreja real na China", disse ele.
Zen disse que se ele fosse um cartunista, ele "ajoelharia o Santo Padre oferecendo as chaves do Reino dos Céus ao presidente Xi Jinping e dizendo: 'Por favor, reconheça-me como Papa'".
O cardeal encerra o seu ensaio com um apelo aos bispos e padres clandestinos da China, pedindo que não iniciem uma revolução, o que significaria apenas a sua ruína.
"Vão para casa e orem com as vossas famílias", disse ele. “Aguardem tempos melhores. Voltem para as catacumbas. O comunismo não é eterno."
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PAPA FRANCISCO
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