O que acontece após a morte?
Por Rav Benjamin Blech, via Notícias de Israel
O que acontece connosco quando morremos? A morte é o fim ou um novo começo? No século 21, a fé continua a ser a nossa única fonte de informação sobre o fim da jornada na Terra. As descobertas científicas ainda não oferecem respostas.
No entanto, um fascinante estudo israelita revela parte do mistério. Feito por pesquisadores da Universidade Hadassah de Jerusalém e publicado na revista Consciousness and Cognition, o estudo ecoa os detalhes que recebemos através da tradição mística judaica.
Elizabeth Kubler Ross dedicou a sua vida ao estudo da morte e daqueles que estão prestes a morrer. Com base nas suas observações, ela escreveu que em todos os anos em que esteve presente no momento em que a vida se esvaiu, o que mais a emocionou foi a súbita calma e serenidade que sempre acompanha a passagem de um estado para outro. Ela descreveu a morte como "sair de um casulo e emergir como uma borboleta".
Os nossos corpos, durante a vida, representam limitações físicas. Sem eles, podemos pela primeira vez alcançar alturas que anteriormente eram inacessíveis.
Embora a Cabala, o misticismo judaico, tenha preenchido algumas lacunas do nosso conhecimento com descrições esotéricas da morte e da vida no Além, a Humanidade enfrentou o mistério da morte sem ter o testemunho pessoal de nenhuma das suas vítimas.
Não importa o quanto desejemos penetrar no véu do sigilo que bloqueia a nossa visão da vida após a morte, teremos que reconhecer as nossas limitações humanas. A morte é apenas uma viagem de ida, que não permite que retornemos à Terra para compartilhar os seus segredos com os vivos. Mesmo que aceitemos a ideia de sobrevivência de outra maneira quando os nossos corpos pararem de funcionar, ficamos bloqueados pela falta de evidências reais, simplesmente porque os mortos não podem falar.
Mas nos últimos cinquenta anos algo de muito novo foi adicionado à equação. Embora muitos continuem a desconsiderá-lo como não sendo verificável, a vida após a vida está lentamente a ganhar terreno entre aqueles que nunca se identificaram como particularmente religiosos ou espirituais.
Graças aos avanços nas técnicas cada vez mais sofisticadas de ressuscitação, houve inúmeros casos de depoimentos de pessoas que morreram e voltaram para contar as suas experiências.
Profissionais que realizaram trabalho inovador na área, tais como Elizabeth Kubler Ross e Raymond Moody, cunharam a expressão EQM, experiência de quase morte, para descrever o fenómeno.
Podemos argumentar (e muitos o fizeram) que, por definição, quem está vivo nunca morreu. No entanto, o que nos permite considerar que aqueles que vivenciaram esse tipo de experiência estavam mais próximos do outro lado é que, clinicamente, estavam mortos. Os seus cérebros não mostravam nem a menor actividade. Os seus corações pararam de bater. É impossível que eles tenham registado sensações, que tenham gravado imagens ou sons. Mas ainda assim, essas pessoas puderam lembrar-se do que aconteceu nos quartos onde os seus corpos repousavam, descreveram quem tinha entrado e saído e ouviram quando foi declarada a sua morte. Elas foram capazes de repetir, em grande detalhe, as conversas que ocorreram na presença dos seus corpos sem vida.
Com que parte dos seus cérebros inactivos viveram e recordaram a experiência? Como é que puderam ver e ouvir? Os seus corpos físicos já não eram capazes de realizar essas tarefas.
Há que salientar que quase todas as pessoas que viveram uma EQM, fossem elas anteriormente crentes, cépticos, agnósticos ou ateus, passaram a acreditar firmemente na existência de uma alma imaterial que sobrevive à morte do corpo.
A morte é acompanhada por uma revisão fundamental da vida, que nos dá uma perspectiva completa sobre a vida que vivemos.
O Rav Chaim David HaLevi, que foi um grande rabino sefardita de Tel Aviv, no seu clássico Asé olejá Lecha Rav, escreveu uma extensa comparação entre a crença judaica, tal como está registada no Talmud, no Midrash, e em fontes cabalísticas, e as recentes Experiências de Quase Morte. Na sua opinião, é muito importante que o mundo secular desperte para uma verdade espiritual crucial: a existência da alma, cuja vida contínua não pode ser negada com a morte do corpo físico.
Agora outra parte da história foi descoberta. O misticismo judaico também ensina que a morte é acompanhada por uma importante análise da vida. Ao aproximar-mo-nos de uma existência sobrenatural, podemos olhar para trás e apreciar plenamente os nossos pecados e as nossas conquistas, os nossos fracassos e os nossos triunfos. Antes de deixar esta terra, temos a oportunidade de reflectir sobre o significado da nossa vida passada e sobre o legado que transmitimos àqueles que deixamos para trás.
Curiosamente, este novo estudo do Hospital Hadassa, liderado pela neurologista Judith Katz, da Universidade Hadassah, em Jerusalém, descobriu que as experiências de revisão de vida que acompanham o processo de morte são frequentes e têm muitos elementos em comum.
As pessoas viam as suas vidas como se estivessem a assistir a um filme, mas a ordem dos eventos dos quais se lembravam não era cronológica. Um participante disse:"Não há progressão linear,faltam os limites temporais... parece que estive lá por séculos. Não houve limitação de tempo / espaço, de modo que a pergunta também parece impossível de responder. Um momento, mil anos ... ambos e nenhum. Tudo aconteceu ao mesmo tempo, algumas vivências da minha experiência de quase morte ocorreram ao mesmo tempo que outras, embora a minha mente humana as separe em diferentes eventos ”.
A maioria dos participantes na pesquisa sobre EQM expressou uma profunda empatia pelas pessoas com quem compartilharam momentos importantes da vida.
Um elemento comum das EQM foi a inclusão de experiências profundamente emocionais, a partir da perspectiva de seres próximos a elas. Eis o que um participante disse: "Eu conseguia acercar-me de cada pessoa e sentir os sofrimentos que elas tinham nas suas vidas ... Eu tinha permissão para ver essa parte delas e sentir por mim mesmo o que elas sentiam".
Outra pessoa disse: "Eu estava a observar tudo, sentia essas coisas sobre ele [o meu pai], e ele estava a compartilhar comigo coisas da sua infância e como foram difíceis para ele".
Talvez a conclusão mais importante seja que "todos os entrevistados no estudo disseram que após a EQM, experimentaram uma mudança fundamental nas suas perspectivas em relação a pessoas e eventos importantes nas suas vidas".Os pesquisadores que registaram as suas descobertas preferiram não as analisar a partir de uma perspectiva espiritual, nem vinculá-los ao antigo conhecimento rabínico sobre a alma ou a explicações religiosas sobre a nossa última jornada. Os cientistas não querem que a ciência se torne um assunto da crença tradicional. Em vez disso, eles tentaram oferecer outras explicações para as suas descobertas: como o lobo parietal, o temporal e o córtex pré-frontal são particularmente vulneráveis à hipoxia e perda de sangue resultante de EQMs traumáticas.
Claro que isso é possível. Mas na minha opinião, o que a sabedoria da nossa tradição compreendeu por milhares de anos é muito mais provável. A morte, como o rabino de Kotzk explica, "é apenas passar de uma sala para outra, de uma espécie de choupana para uma magnífica morada no céu". E, como uma cortesia final, antes de partir para essa viagem, Deus permite-nos olhar para trás, para ver o filme da nossa vida.
Podemos sentir-nos cheios de arrependimento ou alegria naquele momento. Talvez conhecer isso com antecedência seja a maior inspiração para viver uma vida cheia de significado e propósito.
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