Combatendo a "grande" Imprensa, esmagadoramente antissemita, que não tem qualquer objecção à existência de 60 Estados islâmicos (todos ditaduras e tiranias) e de infernos comunistas, mas difama grosseiramente o micro-Estado NATIVO de Israel, a única democracia do Médio-Oriente. Somos portugueses e assumimos o "crime" de não odiar Israel, contra a ditadura do bem-pensantismo esquerdista, globalista e cripto-nazi.
domingo, 17 de dezembro de 2017
Jerusalém - Paulo Tunhas, "Observador"
Transcrevemos abaixo (com destaques a amarelo nossos) o artigo de Paulo Tunhas no Observador. Já tivemos este artigo em destaque na barra lateral, com ligação para o Observador, mas pedimos aos nossos leitores, ainda assim, que cliquem no original, que merece ter muitas visitas. Caso o autor ou o site pretendam, retiraremos de imediato este post. Prestamos homenagem a este comentador e a todas as pessoas que põem a sua consciência acima do receio das represálias do sistema.
A decisão de Trump sobre Jerusalém rompe com a hipocrisia vigente quando
se fala do Médio Oriente, que tudo na aparência igualiza para na
verdade sistematicamente condenar Israel desde o princípio.
Sendo, na aparência, um dos poucos portugueses que não é cidadão dos
Estados Unidos da América, pouco falo de Donald Trump. No máximo, com as
raríssimas pessoas com quem falo de política, o que me vem à cabeça é
dizer que, com a excepção de Donald Trump, tudo conspira para me fazer
simpatizar com Donald Trump. Não é um raciocínio muito elaborado, mas
confesso que ao ler notícias em jornais onde, a partir de uma fotografia
de Trump com os atacadores do sapato direito desapertados, se elaboram
desenvolvidas doutrinas sobre a sua política nacional e internacional, é
aquilo de que sou capaz.
No entanto, o seu reconhecimento ontem
de Jerusalém como capital de Israel, no seguimento de uma decisão do
Congresso americano datada de 1995, levou-me a sentir com ele um acordo
que antes nunca experimentei inteiro. Porque, na malsã atmosfera de
hipocrisia política em que se vive, o gesto não é despiciendo e
manifesta, contrariamente ao que por aí imediatamente se escreveu,
alguma sensatez. Traz problemas? Traz, sem dúvida. Mas representa a
possibilidade de um novo início das coisas, que rompa com a hipocrisia
vigente quando se fala do Médio Oriente, que tudo na aparência igualiza
para na verdade sistematicamente condenar Israel desde o princípio. Não
digo que a hipocrisia não seja por vezes necessária em política (e, de
resto, nas relações humanas em geral) e não tenha, em certas situações,
bons frutos. Acontece que neste caso preciso nenhuma necessidade a guia e
os frutos são maus.
Em 2003, publiquei conjuntamente com Fernando
Gil um livro intitulado Impasses, seguido de Coisas vistas, coisas
ouvidas, por Danièle Cohn. O livro lidava com a reacção ocidental ao 11
de Setembro e ao terrorismo islâmico, incluindo um capítulo sobre a
segunda guerra do Golfo. Antecipando tudo o que se dirá e escreverá por
estes dias acerca de Israel, fui reler algumas páginas então escritas.
Reproduzo aqui uma passagem do livro. Dada a sua extensão, decidi omitir
as referências ao que então era a opinião comum do muito que se
publicava. Guardo apenas uma que é particularmente ilustrativa. Miguel
Sousa Tavares explicava por essa altura que Israel é “a maior ameaça à
paz mundial”, continuando: “Se algum dia o planeta implodir, vai ficar a
devê-lo a Israel e à dependência política do establishment americano
relativamente ao lobby israelita dos Estados Unidos”. Israel, note-se, é
“a maior ameaça à paz mundial”. O que se segue, entre aspas, é o que no
livro é dito em relação a essa doutrina comum, com que teremos de
voltar a conviver em breve, sobre Israel. Limitei-me, tirando pequenos
detalhes, a alterar o texto num ponto: duas afirmações citadas vêm agora
com os seus autores devidamente identificados. (Quando escrevemos o
livro, Fernando Gil e eu optámos por não referir directamente os
autores, porque o que nos interessava era estabelecer o quadro geral de
uma atitude dominante na opinião publicada no que respeitava ao pós-11
de Setembro.)
“A questão de Israel é infinita. Os pontos serão
portanto aqui selectivos. O ódio a Israel não foi sempre, muito pelo
contrário, uma característica da Esquerda. Ele acompanha-se da
descoberta, nessa mesma Esquerda, de uma paixão, a que nada
historicamente a obrigava, pelo terrorismo. Israel é uma sociedade
democrática (segundo qualquer um dos critérios ao nosso dispor:
critérios que remontam ao exemplo do exercício da sociedade ateniense no
século V a. C.), rodeada de sociedades que, segundo esses mesmos e
exactíssimos critérios, não são, nem de perto nem de longe,
democráticas.
“O ódio a Israel relaciona-se com uma tendência
relativamente recente de uma parte substancial da Esquerda a, em
linguagem e em acto, abandonar os patamares da democracia. O ódio a
Israel – e, diga-se por fim, a palavra ódio não é exagerada – tem a ver
com o desprezo crescente que essa mesma parte da Esquerda ostenta pelos
regimes do Ocidente e pelas democracias representativas (“socialmente
fascistas”, nas palavras do Prof. Boaventura Sousa Santos). Israel é
objecto do desprezo que só timidamente – e por vez ou outra mais
atrevidamente – se enuncia em relação à democracia em geral.
“Percebe-se.
Israel: sociedade democrática responsável por si mesma. Israel:
sociedade onde os actos do Governo são fiscalizados e censurados através
do voto. Israel: sociedade onde os cidadãos livremente se manifestam
contra as decisões políticas do seu Governo. Israel: sociedade onde a
vida dos cidadãos é livre, onde, entre outras, as coisas do amor são
abertamente discutidas. Israel: sociedade onde o masoquismo
“suicida-ideológico” não faz parte dos costumes políticos e onde, como
optimamente Alain Finkelkraut escreveu um dia, não se encontra nenhuma
disposição para “expiar os horrores da história ocidental”, porque
parece aos seus cidadãos – e não se vê como lhes negar autoridade para
essa reflexão – “terem sofrido eles próprios mais do que lhes calhava
nesse capítulo. Israel (ainda nas palavras de Alain Finkelkraut):
“pequena nação: pequena em superfície; pequena em número de cidadãos;
pequena no sentido mais profundo em que a sua existência não se encontra
automaticamente garantida, em que permanece contestada trinta e cinco
anos depois da criação do Estado [Finkelkraut escrevia em 1983]”.
Israel: sociedade cuja auto-defesa – os problemas são esses, e não os
mais alambicados da “auto-estima” – se joga dia-a-dia, contra
terroristas que assassinam cegamente. Israel: voltemos ao princípio –
sociedade democrática.
“O ódio a Israel é o ódio recalcado que uma
parte do Ocidente vota a si mesmo. Não é acidental que as críticas à
democracia e as críticas a Israel se fundam no mesmo gesto. Elas
transcendem largamente a preocupação com os sofrimentos que
palestinianos ou israelitas experimentam no seu dia-a-dia. De facto,
nada disso conta – nada disso tem de contar. O que interessa é a questão
da existência, pura e simples, de Israel: é ela que está perpetuamente
em causa. Tal como a da democracia.
“O jornalista (Miguel Sousa
Tavares) que escreve que Israel é “a maior ameaça à paz mundial”, diz,
sem obviamente o dizer com as palavras todas, que a democracia é a maior
ameaça à paz mundial. Quando, levado pelo seu alegre raciocínio,
conclui: “se algum dia o planeta implodir vai ficar a devê-lo a Israel”,
diz (continuando a não se servir das palavras todas) que a democracia é
a causa da destruição do mundo. E pode bem ser que venha a ter razão.
Esperemos que não, mas pode ser que sim. Em todo o caso, não convinha
que falasse como se estivesse a falar defendendo a democracia: o que ele
pede é que se abdique de tudo. Não de várias coisas acidentais e
secundárias, nem sequer daquilo que poderíamos pensar, com razão ou sem
ela, ser o essencial – mas de tudo; nada mais e nada menos do que de
tudo. Está, em suma, a pedir uma coisa impossível. Em primeiro lugar,
impossível para ele mesmo. Mas não está, sem dúvida, a ser original.”
Citei
esta longa passagem – escrita, repito, em 2003 – porque o que vem aí
vai ser mais do mesmo. Não é que Israel não seja continuamente
demonizada. É-o, de facto, sem interrupção. Não há cantor pop que não se
veja policiado pelos profissionais dos “boicotes”. Mas a intensidade
aumentará por estes dias. Entre outros por aqueles que, em nome de
“negociações de paz” que se perpetuam de modo puramente fantasmático,
desejam a todo o custo manter uma ficção que lhes é conveniente: a da
possibilidade de um acordo entre quem quer continuar a existir e aqueles
que apenas desejam a destruição. O que Trump fez tem pelo menos um
mérito: introduzir um novo princípio num estado de coisas onde nenhuma
solução verdadeiramente era possível. Pelo menos, com Jerusalém como
capital de Israel, as coisas ficam mais claras. O que a médio prazo só
pode ser bom.
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