É assaz interessante a análise de Esther Mucznik aos Censos 2010 e às religiões em Portugal. De leitura recomendada, no Público. Destacamos esta passagem.
Apesar de parte integrante da identidade portuguesa desde a constituição da nacionalidade, é hoje uma realidade diminuta devido essencialmente às vicissitudes da história e à sua própria maneira de estar no mundo: mais do que um refúgio, o judaísmo é uma responsabilidade e um compromisso – nem sempre muito fáceis, diga-se de passagem...
Quem se der ao trabalho de estudar a História de Portugal encontra, desde D. Afonso Henriques, Judeus que ajudaram a forjar a nossa nacionalidade. O Judaísmo está na nossa identidade cultural Judaico-Cristã, está na nossa genética e nos nossos nomes de família. Causa penosa impressão, por isso, ver ressurgir aqui e ali alguns anticorpos anti-semitas.
Às vezes é o ressentimento em relação ao «povo escolhido». A História das origens dos Judeus e do Judaísmo está no Antigo Testamento. A História de um povo e de uma religião confundem-se, mas é ingénuo nos tempos de hoje interpretar literalmente o colorido da narrativa bíblica, com o seu peculiar estilo oriental.
Os Judeus foram o «povo escolhido» para uma primeira revelação do monoteísmo, sem simbolismos. Aceita-se que Akhenaton, o jovem faraó, teve uma primeira intuição do Deus Único, e até se encontram ecos desse culto (que para o vulgo era o culto ao Sol), no Antigo Testamento. Aceita-se que o Bramanismo é uma religião monoteísta igualmente ornamentada por simbolismos e aspectos exotéricos (exteriores) que permitem uma apropriação pelas massas crentes, mas que se saiba, nunca na História da Humanidade alguém tinha professado abertamente a crença no Deus Único antes dos Judeus.
Essa escolha divina (para quem é crente, naturalmente), tem sido, de resto uma carga de trabalhos. Queira o leitor reler o Antigo Testamento, cujos primeiros 5 Livros constituem a Torah Judaica, e queira igualmente estudar a História Universal dos Judeus, e assim verificará.
Outras vezes é o mal-entendido persistente sobre a Terra de Israel, que é hoje o Estado Judaico, e que não foi usurpado aos muçulmanos, como a propaganda teima em fazer crer. Os Judeus voltaram ao seu lar ancestral, de onde foram expulsos inúmeras vezes e por diversos povos, mas de onde nunca se retiraram totalmente. Para tal, procederam ao abrigo do Direito Internacional, e sem mover guerra a ninguém. Já a recíproca, não é verdadeira.
E é por estas e outras (não menos lamentáveis) que o Judaísmo não é um compromisso nem uma responsabilidade fácil, seja em que parte do mundo for.
Ilustração: Moisés com as Tábuas da Lei, por Rembrandt.
Ilustração: Moisés com as Tábuas da Lei, por Rembrandt.
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