O Mundo começa a entender o problema de Israel. Tal como o Estado Judaico, começamos a ter o terrorismo islâmico a entrar-nos portas adentro.
Um dia seremos todos israelitas?
O Curdistão tem todas as características para se tornar uma nova versão de Israel. Tal como Israel, está cercado de inimigos e sob a mira dos jihadistas. Tal como Israel, depende do apoio americano.
O Estado xiita que a retirada de Obama deixou no Iraque desfez-se perante a ofensiva do Estado Islâmico (ISIS), que o governo americano
já classificou como uma ameaça maior do que a velha Al-Qaeda. E alguma
gente aproveitou para ir ao sótão recuperar as acusações contra Bush:
não fosse a invasão de 2003, nada disto teria acontecido. Houve até quem
tivesse descoberto mais: o Iraque sob Saddam Hussein, tal como a Síria
dos Assad, era uma ditadura, claro — mas uma ditadura de paz, secular,
multicultural, onde todas as minorias viviam em amena tolerância mútua.
Acontece que as ditaduras de Saddam e dos Assad não eram nada disso.
No Iraque, a 16 de Março de 1988, Saddam demonstrou uma peculiar
concepção de multiculturalismo ao usar gás de mostarda para matar
milhares de curdos. Na Síria, em Fevereiro de 1982, o pai do actual
Assad desenvolveu um novo conceito de tolerância ao massacrar cerca de
20 mil sunitas na cidade de Hama. A paz do Iraque de Saddam ou da Síria
da família Assad era a paz dos cemitérios. Externamente, as suas noções
de boa vizinhança não eram menos originais. Saddam atacou o Irão em 1980
e invadiu o Koweit em 1990. A família Assad ocupou o Líbano em 1976.
Eis os grandes pilares de paz multicultural e equilíbrio diplomático que
a sabedoria de algibeira nos diz agora que o Ocidente devia ter
respeitado.
Com Bush, ficámos a saber que operações de democratização-relâmpago,
como a ensaiada no Iraque, não funcionam. Com Obama, percebemos que jogar golfe também
não. Obama retirou do Iraque e não quis intervir na Síria, para não
repetir o “erro de Bush”. Resultado: teve de voltar ao Iraque e terá
provavelmente de intervir na Síria,
donde o ISIS saiu para invadir o Iraque. Em 2001, também Bush
tencionava evitar o “erro” das intervenções de Clinton. Foi Bin-Laden
quem o fez mudar de ideias. Tal como o ISIS a Obama.
As coisas podem ainda tornar-se mais complicadas. No Iraque, o
objectivo americano não foi defender o governo de Nouri al-Maliki, que
deixou cair, mas o Estado autónomo dos curdos. Ora, o Curdistão tem
todas as características para se tornar uma nova versão de Israel. Tal
como Israel, está cercado de inimigos e sob a mira dos jihadistas. Tal
como Israel, depende do apoio americano. Ao contrário de Israel, porém, a
sua defesa não dispensa a intervenção militar directa dos EUA. Por
enquanto, tudo se passa no deserto, e não na cidade, como em Gaza.
Senão, já estaríamos a contar as baixas civis causadas pela aviação
americana.
O Curdistão não é o único candidato a ter um futuro israelita. A
Europa ocidental tem à sua volta Estados como a Rússia e o Irão, sob
sanções, ou ex-Estados convertidos em bases da jihad, como a Líbia, a
Síria ou o Iraque, donde os sucessores da Al-Qaeda esperam, através da
diáspora muçulmana, levar a guerra até ao Ocidente. Estes Estados e
movimentos não são iguais, mas têm isto em comum: todos reagem, não
apenas contra o poder ocidental, mas também contra o modo de vida
ocidental (secularismo, igualdade das mulheres, aceitação de diferentes
escolhas sexuais, etc.). Os seus métodos de agressão variam, mas são
igualmente perigosos. A Rússia, por exemplo, pode parecer interessada
apenas em jogos diplomático-comerciais, mas ei-la a armar uma subversão
na Ucrânia, provocando a morte de centenas de passageiros de um voo de
Amsterdão.
E como têm respondido os EUA e os europeus a tudo isto? Com embargos,
operações de contra-terrorismo, e ataques militares. Tal como Israel no
Médio Oriente. Há diferenças? Há, claro. Mas talvez um dia deixem de
ser suficientes para esconder as semelhanças.
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