terça-feira, 23 de dezembro de 2014

FELIZ NATAL!


Natal e Chanuká convivem pacificamente em Israel


Sou português, fui criado num lar cristão, frequentei a Catequese, fiz a Primeiro Comunhão, tive a educação religiosa de qualquer jovem da minha geração. Quando eu era pequeno, o pior insulto que havia era "judeu". Mas nenhum de nós fazia a mais pequena ideia do que fosse um judeu. 

Não estabelecíamos a mínima ligação entre os judeus-insulto e os judeus que enchiam as nossas tardes de Sábado com encanto, paz e sincero sentimento religioso. E como gostávamos de ouvir as histórias e aprender as lições dos Patriarcas (Abraão, Isaac, Jacob); das figuras aventureiras e heróicas do nosso Catecismo (José do Egipto, o Rei Salomão, o impressionante Jonas, dentro da baleia); dos respeitados Profetas (Elias, Isaías, João Baptista); dos Apóstolos; dos Evangelistas; e do próprio Jesus, que nos foi apresentado como Deus, juntamente com o Pai e o Espírito-Santo.

Sou grato a meus pais, que me deram uma educação religiosa. E aos meus catequistas, que me deram as primeiras noções de espiritualidade e moral. Se sou menos bom, não é culpa deles. A formação católica não me tolheu a liberdade de ser hoje um universalista, alguém que, embora no grau modesto da sua cultura e intelecto, gosta de estudar e aprender com todas as religiões.

Uma das primeiras vezes que levantei as orelhas para as palavras "Israel" e "judeus" foi há uns anos, quando, por esta altura, escutava uma emissão de Rádio, e o repórter, lá na Terra Santa, perguntava aos habitantes o que pensavam do Natal. Naturalmente, pensavam o que nós, em Portugal, país predominantemente cristão, pensamos do Hanuká. Sabiam mais ou menos o que era, mas não celebravam. O repórter, em estado de exaltação mística (para não dizer histérica), respondia-lhes aos gritos, verdadeiramente indignado com tal indiferença: "Mas Ele é o Messias! Mas Ele é o Messias".

Embora por essa altura ainda não estivesse familiarizado com o conceito de Messias, não deixei de ficar chocado com tamanha manifestação de desrespeito. Comecei cá a pensar se o repórter faria tamanho aranzel, se, ao interrogar os brâmanes à beira do Ganges a 23 de Dezembro, estes lhe declarassem honestamente não saber ao certo o que é o Natal. Se este gritaria assim aos xintoístas, aos animistas, aos muçulmanos ou aos budistas.

E que responderia o mesmo repórter se um homólogo israelita e judeu lhe fosse gritar, em Lisboa, acerca da sua indiferença em relação ao Hanuká, "Mas foi o Milagre da Luz! Mas foi o Milagre da Luz!"?

Há, na verdade, quase dois milénios de ressentimento da parte da Cristandade para com os judeus. É que o Messias dos cristãos nasceu lá, em Israel, e os judeus afiguram-se-lhes uns cabeçudos, uns teimosos, que deveriam ser os primeiros a converter-se, pois que são compatriotas do próprio Deus feito homem!

Não lhes ocorre, aos amuados detractores, que o enfoque judaico é diferente, como é diferente a perspectiva de duas pessoas que vejam o mesmo evento, devido ao ponto diferente do qual o observam. Mesmo hoje, que a liberdade religiosa é um dado adquirido por uma Humanidade intelectualmente e moralmente amadurecida, persiste a velha pecha de que "eles" deviam converter-se!

Para o vulgo, a ligação de Jesus com o povo judeu e com o Judaísmo, é a mesma que eu tinha aos 6 anos, em época de TV a preto e branco e só um canal. Pouco se lhes dá que Yeshua (romanizado como Jesus Cristo),  tenha sido um judeu, praticante do Judaísmo, e que, segundo as próprias palavras, até tenha vindo "para as ovelhas perdidas da Casa de Israel".

Em Israel celebra-se o Natal abertamente, como se celebra qualquer festividade religiosa em qualquer país livre e democrático. Ali a toda a volta, Norte de África e Médio Oriente, o Islão é hegemónico, e como tal não há liberdade religiosa, nem liberdade de espécie alguma. Há cristãos perseguidos, raptados, torturados e executados, apenas por serem cristãos.

Os judeus, por seu lado, não têm muitas razões para euforias natalícias. Durante séculos, esta era a ocasião em que milícias de fanáticos religiosos iam de porta em porta "caçar" judeus, pelo alegado "deicídio" alegadamente cometido pelos seus antepassados. Destruíam-lhes casa e bens, espancavam-nos, matavam-nos. Ainda hoje, grupos folclóricos europeus, executam publicamente cantos natalícios que celebram o Holocausto. A violência cometida em nome da religião é a negação do próprio conceito de religião.

Esta despretenciosa crónica natalícia poderia ser um festim de lugares-comuns próprios da quadra. Optei por revisitar a minha perplexidade para com a fricção que ainda causam as opiniões diferentes. Ainda por cima em termos de religião. Desde os meus tempos de catequese que trago gravadas as palavras de Yeshua: "Amai a Deus acima de todas coisas, e ao próximo como a vós mesmos".

Celebremos então o aniversário do judeu mais famoso de sempre.


- A TODOS OS LEITORES E AMIGOS, DESEJAMOS UM FELIZ NATAL! QUE SEJAMOS SEMPRE "SIM, SIM, NÃO, NÃO", COMO ENSINOU YESHUA/JESUS, E NUNCA TEMAMOS ESTAR DO LADO DO BEM, CONTRA TODO O MAL!

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