domingo, 8 de dezembro de 2013

"Pimpinela Negra"

A emoção da partida de Mandela não apaga o facto de que o país ainda está muito longe da paz social e da satisfação das necessidades básicas de todos os cidadãos. Uma análise mais a frio do Público, hoje,  aqui. A questão racial continua a dividir o país, e a violência está longe de cessar, como já aqui assinalámos.

Conforme os hábitos do jogo político, já estamos entretanto a assistir à correria de alguns menos escrupulosos para fazerem seu o legado de Mandela e o usarem segundo as próprias conveniências. A BBC interroga-se acerca de quem tem mais a ganhar no Médio Oriente com o legado de Mandela (lembremos que nas condições da Guerra Fria da época, os  principais aliados do ANC, ao lado dos soviéticos, eram ditadores árabes e do terceiro mundo, como Ahmed Ben Bella na Argélia, e Gamal Abdel Nasser no Egipto).

Da parte de Israel assistimos ao luto e recolhimento. Da parte dos Árabes começámos já assistir à politização da morte do líder sul-africano. A máquina de propaganda Pallywood é desconcertantemente simples; um homem pega numa foto de Mandela e vai invectivar os soldados israelitas. O homem está desarmado e os soldados estão armados (como todos os soldados do mundo). A Imprensa está a postos e a foto corre mundo, com a habitual legenda do tipo "uma foto contra armas". É fácil, é barato e dá milhões - de odiadores e desinformados.

A Palestinian man holds a portrait of Nelson Mandela as he stands in front of Israeli soldiers during clashes between youths and the army in the West Bank village of Bilin on December 6, 2013A Palestinian man holds a portrait of Nelson Mandela as he stands in front of Israeli soldiers during clashes between youths and the army in the West Bank village of Bilin on December 6, 2013

Desconcertantemente simples: Qualquer forma de atacar ou invectivar os soldados israelitas merece a solidariedade da Imprensa internacional. Nos países árabes, quem fizesse aos respectivos soldados o que faz aos de Israel, seria imediatamente eliminado.

Os palestinianos aproveitaram a morte de Mandela para se lançarem em manifestações violentas contra os soldados israelitas. Os fotógrafos estavam lá e as imagens são repetidas à exaustão, como se as manifestações tivessem alguma ponta de lógica que não a propaganda.

 

 
Nos anos 80 os Estados Unidos tinham Mandela e o ANC na lista dos terroristas. Agora, publicaram no Facebook da Embaixada norte-americana em Jerusalém as mesmas fotos, e artigos anti-israelitas, entusiasticamente aproveitados pela Imprensa palestinianista.

Marwan Barghouti, o chamado "Mandela palestino", alinha pelo mesmo diapasão. Contrariamente ao que os media mainstream fazem crer, Barghouti não é nenhum Mandela.


 Mas deixemos as obscenidades Pallywoodescas:

 

'Nelson Mandela: o líder sul-africano preso durante vinte e sete anos pela sua luta contra o apartheid', obra do jornalista israelo sul-africano Benjamin Pogrund

Poderia Mandela ter resolvido o conflito israelo-palestiniano?
por  Benjamin Pogrund

Neste tempo de luto por Nelson Mandela, tenho um grande pesar pessoal: que ele nunca contribuiu para a resolução do conflito israelo-palestino. Ele disse-me que o queria fazer, e que gostaria de fazê-lo. Mas o tempo acabou para ele.


Privei com Mandela durante 55 anos, desde a época que ele era advogado em Joanesburgo - quando apenas um punhado de negros tinham alcançado esse estatuto - e líder no movimento de libertação Congresso Nacional Africano. Eu era um jovem repórter no jornal da cidade, o Rand Daily Mail, que foi pioneiro em referir a política negra, cuja existência era ignorada no mainstream "branco" da Imprensa da época - e comecei a reunir-me regularmente com Mandela.

O governo reconheceu-o como um perigo para a sua política de apartheid e "baniu-o": um decreto proibiu-o de estar com mais de uma pessoa ao mesmo tempo e de participar em actividades políticas, ele não foi autorizado a entrar nas escolas, universidades ou fábricas e teve que permanecer dentro dos limites municipais. Nada do que ele dissesse poderia ser citado.

Apesar disso, ele continuou como líder secreto dentro do ANC. Em 1960, foi detido sem julgamento por cinco meses durante o estado de emergência que se seguiu ao massacre de Sharpeville, no bairro negro onde a polícia atirou e matou 69 manifestantes negros pacíficos. O ANC e o seu movimento rival, o Congresso Pan-Africanista, foram proibidos.

Uma vez libertado, Mandela começou a trabalhar secretamente para organizar uma greve de massas por trabalhadores negros contra o apartheid. A força policial inteira estava no seu encalço. Ele era popularmente conhecido como o "Pimpinela Negra", uma referência ao herói Pimpinela Escarlate, dos romances da Baronesa D'Orczy sobre a Revolução Francesa.

Por essa altura já nos conhecíamos bem o suficiente para confiarmos um no outro: encontrava-mo-nos em segredo durante a noite nas ruas suburbanas escuras para que ele pudesse informar-me sobre os seus planos de ataque. Tínhamos um sistema para enviar mensagens um ao outro. Também foi providenciado que eu estaria na minha mesa de trabalho às 05:00 horas, todos os dias: a cada poucos dias, o telefone tocava e uma voz anónima lia uma declaração de Mandela. Os responsáveis da Polícia de Segurança estavam furiosos e advertiram o meu editor, o renomado Laurence Gandar, que enfrentou um processo por publicar esse fluxo contínuo de informações. Continuámos a publicação e não houve acusação.

A greve não foi um sucesso e Mandela fugiu do país. O resto é História: como ele voltou, foi traído por um informante e passou os seguintes 27 anos na prisão.
Naqueles dias, no final da década de 1950, ele estava plenamente consciente do que estava a fazer para enfrentar um Governo determinado e autoritário. Ele sabia que estava a pôr em risco a sua liberdade, e a sua vida. Ele sabia que estava a abdicar da sua família -  estava no seu segundo casamento, com a bela e glamourosa Winnie, e tinham duas filhas pequenas - mas ele continuou.

Enquanto estava na prisão, foi abordado secretamente com ofertas para libertá-lo sob a condição de que ele renunciasse publicamente à violência e passasse para o Transkei, o Estado fantoche tribal criado pelo Governo. Ele recusou.

Ele foi finalmente libertado em 1990 e mergulhou de novo no trabalho político, agora abertamente. Foi eleito presidente da nova e não racialista África do Sul democrática.

Estivemos em contacto ao longo dos anos. O Governo permitiu-me visitá-lo na prisão - a primeira visita de um membro não-familiar. Disseram-me que eu podia vê-lo como amigo, não como jornalista - eu era então vice-editor - e tive que prometer que não iria escrever nada.

Vim em aliah para Jerusalém. Eu viajava regularmente para a África do Sul, e, ao visitar Mandela na sua residência oficial na capital, Pretória, pedi-lhe para dar atenção ao nosso conflito israelo-palestino. O seu status moral poderia fazer maravilhas e juntar os dois lados, disse-lhe. A África do Sul na época era o exemplo reconciliação brilhante para o mundo, e ele poderia exercer a sua influência única e trazer a paz.

Mandela ouviu atentamente. Ele queria ajudar, disse, mas na altura tinha que lidar com o Ruanda, que estava a atravessar conflitos internos horríveis, e assassinatos. "Quando eu tiver resolvido o Ruanda vou voltar-me para o Médio Oriente", disse ele.

Isso, é claro, nunca aconteceu. Poderia Nelson Mandela mudar a nossa História? Não sabermos. Devemos continuar os nossos esforços.


O último livro de Benjamin Pogrund, "Israel é Apartheid? Relatando os factos sobre Israel e África do Sul", deverá ser publicado no próximo ano pela Rowman & Littlefield , de Nova Iorque.

1 comentário:

  1. O Israelita é que devia pegar no cartaz e mostrar aos supremacistas "palestinianos"

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