quinta-feira, 5 de março de 2015

Purim durante a Inquisição




Celebrando em Segredo: Como os judeus de Espanha celebravam a festa de Purim durante a Inquisição.
Apesar da perseguição implacável, os judeus encontraram uma maneira de observar as festividades de Purim durante a Inquisição.

Em 1391, uma onda de massacres anti-judaicos varreu a Espanha, onde os judeus foram forçados a escolher entre a conversão ao Cristianismo ou serem assassinados. Cerca de 20.000 judeus espanhóis tornaram-se cristãos durante esse período de tempo, e muitos mais, coagidos, continuaram a converter-se ao longo dos anos. No entanto, muitos desses judeus que foram convertidos sob a espada continuaram a praticar o Judaísmo em segredo. Isso perturbou muito os espanhóis, que viram que muitos judeus, só aparentemente convertidos, continuavam a fazer parte dos altos escalões da sociedade espanhola, como durante a Idade de Ouro da Espanha muçulmana.
Por isso, em 1492, a Rainha Isabel I de Castela e o Rei Fernando II de Aragão expulsaram do seu reino os judeus que continuaram fiéis às suas crenças. Anteriormente, a Inquisição espanhola tinha sido criada para caçar os judeus que continuaram a praticar a sua fé em segredo. No total, 165.000 judeus fugiram Espanha, 50.000 foram baptizados e 20.000 pereceram durante a tentativa de deixar a Espanha, em 1492.

31912 "hereges" foram queimados na fogueira em Espanha, e 17.659 foram queimados em efígie.
Para os judeus secretos, conhecidos como Anusim, Conversos ou Marranos, que viviam sob o jugo da Inquisição, e, portanto, em constante medo de serem descobertos, as festividades de Purim tinha um significado especial, já que a Rainha Ester também foi forçada a praticar o Judaísmo em segredo inicialmente.
- Veja o nosso post sobre a festa de Purim, que celebra a salvação dos judeus durante o cativeiro na Babilónia.
Para os Anusim de Espanha, Portugal e da América Latina, Purim não era um dia de festa, cheio de crianças fazendo barulho e adultos bebendo bebidas alcoólicas. Se esses judeus celebrassem dessa maneira, seriam descobertos pela Inquisição. Em vez disso, os Anusim, cuja existência estava sempre em perigo, jejuavam durante três dias, assim como a Rainha Ester jejuou por três dias, quando os judeus da Pérsia foram ameaçados de aniquilação.
 
Contudo, a Inquisição usava a observância do Jejum de Ester como um indicador de que os judeus se envolviam numa actividade religiosa proibida. Além disso, um jejum três dias não era considerado saudável. De acordo com Gabriel de Granada, um menino de 13 anos de idade, interrogado pela Inquisição, no México, em 1643, as mulheres de sua família iriam dividir os três dias de jejum entre elas. Umas jejuariam no primeiro dia, outras no segundo e outras no terceiro. Leonor de Pina, presa pela Inquisição Portuguesa em 1619, confessou que as suas filhas jejuariam por três dias durante o dia, e comeriam durante a noite. Quando comessem, abster-se-iam de carne.
Pode visualizar aqui, no Arquivo Nacional da Torre do Tombo, o processo completo de Leonor de Pina, cuja sentença, em auto-da-fé de 05/04/1620, consistiu em abjuração em forma, cárcere e hábito perpétuo, instrução na fé católica, penitências espirituais.
Os estudiosos dos Anusim sustentam que os judeus secretos de Espanha, Portugal e América Latina viam o jejum privado de três dias como um substituto da mitzvah (mandamento) da festividade pública, das leituras na sinagoga e do envio de presentes e comida para a família e amigos, acções que teriam chamado a atenção da Inquisição. Na verdade, o professor Moshe Orfali, da Universidade de Bar Ilan, afirma que os Anusim jejuavam muitas vezes, o que eles viam como uma forma de demonstrar o seu remorso por serem forçados a violar a Torá.
Curiosamente, os Anusim também transformaram a Rainha Ester em "Santa Ester", como meio de disfarçarem a sua fé judaica perante a Inquisição. Os Anusim dirigiam-lhe frequentemente as suas orações. Mesmo tendo perdido muita da sua herança judaica ao longo dos séculos em que a Inquisição vigorou, eles nunca esqueceram a Rainha Esther ou as palavras do seu Livro, que proclamam: "Estes dias de Purim nunca vão deixar os judeus, nem a sua lembrança jamais será perdida com os seus descendentes".

Por: Rachel Avraham

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