POSTAGENS ESPECIAIS DE CORRIDA

domingo, 16 de fevereiro de 2014

"Ah, seu judeu!"




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"Os judeus mataram um menino" capítulo de um livro de propaganda anti-semita presente nas escolas espanholas até pelo menos à década de 60. O livro chamava-se "Eu sou espanhol" e  foi  escrito por Agustín Serrano de Haro (inspetor-chefe de ensino primário do Ministerio da Educação do regime de Franco. Teve várias edições entre 1943 e 1968 e foi um dos muitos livros utilizados na doutrinação franquista. Não deve ser por acaso que a Espanha é dos países com a taxa de anti-semitismo mais alta da Europa. Via Galiza-Israel.

Quando eu era pequeno, o pior insulto que havia era "judeu". Não tenho a mínima ideia de alguém nos ter ensinado a odiar os judeus - nem sequer sabíamos o que era um judeu, quem eram os judeus, onde viviam, o que faziam, o que vestiam, com quem se pareciam, ou o que tinham exactamente feito para serem "maus".

Uma frase que alguns miúdos diziam muito era: "Os judeus cospem para o Céu". Não sei, de todo, onde íamos buscar tais ditos, tais ideias, só tenho uma vaga impressão de que se entendia "judeu" como inimigo de Deus. Éramos todos fervorosamente católicos, corríamos para a catequese, e queríamos ser dignos de Jesus, fazendo o bem, não pecando, cumprindo escrupulosamente as nossas obrigações religiosas. Nas longas tardes de Verão, os miúdos do bairro juntavam-se na rua, ou num quintal, e as meninas levavam o catecismo, que era para nós uma companhia tão natural como a bola de futebol. "Judeu" era um adjectivo impreciso. E um insulto.

Não conhecíamos, aliás, outras religiões. Na Catequese da Igreja Católica, as estatísticas referiam singelamente o número de cristãos e de "pagãos" - que eram todos os não-cristãos. Budismo, Hinduísmo, Judaísmo, Islamismo, Xintoísmo, nunca ouvíramos falar. Para os "pagãos", desejávamos que Deus os salvasse do Inferno. Tinhamos uma pena imensa das alminhas que se debatiam eternamente nas chamas, como viamos nas ilustrações do catecismo.


Na apresentação de um dos seus livros, o conhecido jornalista José Rodrigues dos Santos provocou reacções indignadas por ter referido que Jesus era judeu (!)...
Repito: nem em casa, nem na catequese, nem na rua, não me recordo de alguém nos ter ensinado absolutamente nada, nem de bom nem de mau, sobre os judeus. São coisas que persistem, misteriosamente, como o calendário dos jogos, que nos punha, nas alturas devidas, a jogar pião, berlinde ou carica, sem que ninguém no-lo lembrasse. Tão certo como as andorinhas chegarem e partirem. Tão certo como esse ódio inconsciente aos "judeus".

E no entanto, todos os dias nos cruzávamos com judeus. Como não tinham corninhos nem rabinhos, nem tão pouco andavam a distribuir panfletos sobre a respectiva origem étnica e/ou religiosa, naturalmente que não suspeitávmos do terrível segredo da família Abrunhosa da ourivesaria, da família  Pereira do cabeleireiro, da família Vilela do café, da família do dr. Macedo, o médico que morava na nossa rua, etc., etc., etc..
 
Carl Gustav Jung e os seus discípulos saberão explicar estas coisas do inconsciente colectivo. Não me admira que muitas pessoas ainda tremam e sintam uma hostilidade visceral ao escutarem palavras como "judeu", "Israel", "Sião", "Sionista", "Hebreu", "Hebraico", etc.. Ou que tenham tremido de medo com o post dos apelidos judaicos (não temam; o uso desses apelidos não é exclusivo dos judeus). Ou que me repreendam severamente por mencionar o Holocausto. Ou que racionalizem toscamente a aversão e odeiem os judeus porque Jesus terá chicoteado os "agiotas", os mercadores do Templo, e consequentemente TODOS os judeus são esses putativos "agiotas"

Esta aversão atávica, e a existência de Israel, formam uma combinação explosiva, que demora a extirpar. Os inimigos de Israel conhecem a psicologia das massas, e as encenações dos meninos "mortos por Israel" são um recurso frequente. Há uma indústria disso, chama-se "Pallywood". Ontem era nos manuais escolares. Hoje é na Internet. Hoje é no Facebook, que por acaso até foi criado por um judeu e Sionista...



Posando com a foto depois da encenação. Desta vez foi a mãe que "morreu", para variar. É preciso ter uma paciência de Job, e uma capacidade de perdão de Jesus...

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