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domingo, 16 de outubro de 2016

Lucky Luke e os Judeus - uma evidência!


O pobre cowboy solitário e sempre longe de casa festeja 70 anos, com um álbum muito especial. Confira a capa e o enredo escolhido pelo autor multipremiado Jul. 
A Banda Desenhada franco-belga, com o seu estilo deliciosamente old-school, tem estado sempre dez anos à frente de Hollywood. A prova? A série Lucky Luke, que desde a morte de seu criador Morris em 2001, tem experimentado várias reinvenções, como os super-heróis da Marvel ou da DC, Homem-Aranha e Superman à cabeça.
Morris tinha um fascínio Estados Unidos, onde viveu no final dos anos 40, onde conheceu o seu amigo Harvey Kurtzman, o brilhante fundador da revista Mad, e  René Goscinny, que se lhe juntou nas aventuras de Lucky Luke, em 1955.

 
Harvey Kurtzman, autor prestigiado, fundador da 'MAD Magazine', era filho de refugiados judeus da Ucrânia. Não sabíamos.

Os números do pobre cowboy solitário não têm quase nada a invejar aos dos mastodontes do outro lado do Atlântico, o que alegrava Morris, para quem o sucesso social e profissional não era uma palavra vã: 80 álbuns publicados em 70 anos, 300 milhões de álbuns vendidos, tradução em vinte línguas, 3 filmes com actores humanos, 4 filmes animados, 5 séries de televisão, 16 vídeo jogos!


Parabéns, Lucky Luke!

No entanto, o homem que dispara mais rápido do que própria sombra, luta hoje para encontrar uma identidade à altura da sua fabulosa reputação. Desde a morte de Goscinny, em 1977, vários autores tiveram sucesso ao lado de Morris, e em seguida, de Achdé, o desenhador que substituiu o mestre dos pincéis em 2003: o prestigiado elenco (Laurent Gerra, Daniel Pennac, Tonino Benacquista…) porém, nunca igualou as maiores conquistas do duo Morris-Goscinny, como A Diligência, Calamity Jane ou O Pezinho Mole.



Um dos álbuns clássicos de Lucky Luke.


Quando Lucky Luke conheceu o Rabi Jacob!

Stéphane Beaujean, Comissário da exposição dos 70 anos de Lucky Luke, no Museu de Banda Desenhada de Angoulême, explica que não é fácil atingir as alturas do sucesso de Morris e Goscinny, por via das mudanças de estilo e do carácter multifacetado da sua carreira: "Lucky Luke teve tempo para se resolver, porque Morris procurou o seu estilo".

O Rabino Jacob fica um tanto chocado porque a Lei do Oeste não é exactamente a Lei de Moisés...

"Morris desembarcou na Banda Desenhada, porém esse não era o seu plano original - ele queria fazer animação. Ele concluiu, depois de alguns anos a viver nos Estados Unidos que o seu futuro seria a Banda Desenhada. O que ele gostava era da encenação, dos actores. Com a 'Mad Magazine', ele entendeu que tinha que fazer uma série de comédia, com as ferramentas, os cartonistas e a ligação à cultura popular da época".


Morris (esq.) e Goscinny.


A transmutação cómica opera-se definitivamente com a cumplicidade de Goscinny, de quem Lucky Luke, - e Astérix - são o topo da carreira e o auge do refinamento artístico. 
Não obstante, enquanto o Pequeno Gaulês teve direito em 2013 a celebrações nacionais, quando passou para responsabilidade do duo Conrad - Ferri, ao passo que Lucky Luke continua as suas aventuras de há tanto tempo perante uma indiferença polida. Como Astérix, ele precisava acima de tudo de um autor, de um cúmplice capaz de presidir ao seu destino.

É o brilhante Jul, o multiplamente premiado autor de Silex e La Planète des Sages o  encarregado de gerir a longo prazo o património Goscinniano.

 Jul

Em exclusivo, o Le Point revelou a capa e o tema escolhido por Jul para A Terra Prometida: Lucky Luke escolta uma família de judeus da Europa Oriental para o Oeste Selvagem. O seu amigo Jack-o-Jinx pediu-lhe para cuidar dos seus pais, a quem ele não se atreveu a admitir que era um cowboy e não um advogado em Nova Iorque!

 Jul realiza um sonho de infância.

Um avô religiosa obcecada pelo Shabat, uma mamma que decidiu que Lucky Luke está muito magro e tem de engordar, uma jovem puritana que procura o marido ideal, um menino turbulento mais interessado no Velho Oeste que no seu bar mitzvah, mais os habituais foras-da-lei, jogadores de poker ...

Um conjunto tentador e promissor, a que se junta o rabino Jacob, entra nas aventuras deste herói que impressionou Jul enquanto criança: "Lucky Luke é uma figura de plástico, oca, que permite lidar com as mais diversas histórias com grande elegância e... curiosamente, é o oposto do cowboy solitário que afirma ser!".


A matriarca decide que Lucky Luke está magro e que precisa casar :-)

Primeiro, ele forma um par inseparável com o seu cavalo Jolly Jumper, com quem está em conversação constante. Entre eles formam uma figura do centauro, o ego e o superego versão de Wild West!

E Lucky Luke está extremamente bem rodeado: os seus adversários seculares, os Dalton e outros, os seus verdadeiros amigos, Calamity Jane, o Pezinho Mole, e, claro, as viúvas e os órfãos, e todos quantos ele auxilia em toda a amplitude dos seus álbuns, são uma família alargada, para um cowboy menino, cavalheiro, longe do modelo do eremita da montanha.

A Terra Prometida não é excepção a esta regra.

Com uma tiragem de 500 000 exemplares, Lucky Luke segue os passos de Astérix, e irá, sem dúvida, ser mais escrutinado e analisado que os mais recentes títulos da série, em razão do novo desenhador.
Jul está bem ciente disso: "Assumir oficialmente as rédeas da série Lucky Luke, que não é exactamente suceder a Goscinny: este herói teve outros argumentistas e desenhadores, e o desafio, agora que a série completa 70 anos, é precisamente reviver o espírito do maior deles!".

"Não se trata de fazer revivalismo, mas de fazer um álbum de hoje: ser ao mesmo tempo fiel aos códigos estabelecidos, e começar um novo começo."

Lucky Luke e os judeus, um tema pertinente.

 

René Goscinny era filho de judeus polacos. Sabia? Nós não.

A escolha que confronta o cowboy com os emigrantes judeus certamente não é estranha ao próprio judaísmo de Goscinny: parte da família pereceu nos campos de extermínio.

E é também um assunto ousado, como confirma Jul: "Lucky Luke e os judeus, é um tema que tem chamado a atenção, mas, se pensarmos bem, é óbvio".  
Atrever-mo-nos a abordar esta história é abrir  um capítulo importante na história dos Estados Unidos, que estranhamente foi completamente ofuscado por Goscinny. Os italianos, irlandeses, chineses, todas estas comunidades icónicas foram abordadas em outros álbuns ... mas nunca os judeus!
Terá sido o medo de ofender, a modéstia, o quanto a história da migração de judeus da Europa Oriental para o Novo Mundo tocou com sua história pessoal?



Sabia que as calças de Lucky Luke e da maior parte das personagens das suas histórias - e as calças que você tem vestidas neste exacto momento muito provavelmente - são uma invenção judaica? Esta nós sabíamos:

LEVI'S - Jewish Style!


"Hoje, precisamente, quando estamos num período de identidades em tensão, parecia importante escolher uma história que falasse do choque de culturas, sem o embelezar, mas apostando na alegria e na inteligência do leitor".

A Terra Prometida sai a 4 de Novembro, tem 48 páginas e custará em França 10,60 euros.

- Tradução livre de um artigo do Le Point - « Lucky Luke et les Juifs, c’est comme une évidence », « La Terre Promise », via EUROPE-ISRAEL. Imagens e comentários nossos, a castanho.


QUEM É LUCKY LUKE?

"(...) todos quantos ele auxilia em toda a amplitude dos seus álbuns, são uma família alargada, para um cowboy menino, cavalheiro, longe do modelo do eremita da montanha."

- Na nossa modesta opinião, apenas com a mediana autoridade de quem tem em casa todos os álbuns de Lucky Luke e os relê regularmente desde a infância, Goscinny nunca abordou directamente o tema dos judeus porque há boas chances de Lucky Luke ser, ele mesmo, um judeu.
Na introdução de O Pezinho Mole são apresentados diversos  cowboys que não se lembram já dos seus antepassados europeus. Um deles, a quem os amigos conheciam por "Tex", tinha um avô sapateiro em Cracóvia.
Lucky Luke, com a sua adaptabilidade e a sua solidão, a sua vocação para ajudar o próximo a troco de nada, o seu companheirismo que não o impede de estar sempre "sozinho e longe de casa", pode bem ter tido um avô judeu algures na Polónia -  como Goscinny.


Mick Jones, dos Clash, outro cowboy judeu (já para não mencionarmos Bob Dylan, judeu, cowboy e Prémio Nobel).

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