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sexta-feira, 30 de setembro de 2016

Netanyahu elogia o "notável" Shimon Peres


O primeiro-ministro Benjamin Netanyahu discursou na cerimónia do funeral de Estado do ex-Presidente Shimon Peres, no Monte Herzl, em Jerusalém, hoje, 30 de Setembro de 2016. Peres foi internado no Centro Médico Sheba, em 13 de Setembro de 2016, depois de sofrer um acidente vascular cerebral, e faleceu há 2 dias, com a idade de 93 anos. Foto por Emil Salman / POOL

Num elogio profundo e sentido a Shimon Peres, o primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, enfatizou o objectivo comum de paz e segurança em todo o espectro político.

 

"Vocês vieram de perto e de longe até Jerusalém, a capital de Israel, para prestar as últimas homenagens a Shimon Peres, um dos fundadores do moderno Estado de Israel, um dos maiores líderes da nossa nação, um venerável líder, o notável Shimon Peres.

Que tantos líderes tenham vindo de todo o mundo para se despedirem de Shimon, é uma prova do seu optimismo, da sua busca de paz, do seu amor por Israel.

O povo de Israel aprecia profundamente a honra de ter Shimon e o Estado a que ele dedicou sua vida.

Shimon viveu uma vida com propósito. Subiu a alturas incríveis. Passou a tantos a sua visão e a sua esperança. Ele foi um grande homem de Israel. Ele foi um grande homem do mundo.

Israel lamenta a sua partida. O mundo chora por ele. Mas nós encontramos a esperança no seu legado, bem como o mundo.

Shimon Peres não só levou uma vida longa, mas uma vida significativa.


O jovem Shimon Peres.

Ele desempenhou um papel activo como membro sénior no renascimento nacional do povo judeu.

Ele pertence à geração que saiu da escravidão para a liberdade, que deitou raízes na nossa antiga terra natal, e empunhou a espada de David em sua defesa.

Shimon deu uma contribuição monumental para garantir a nossa capacidade de nos defendermos, por gerações.

E, por isso, isso, ele terá a gratidão de gerações.

'Todos os esforços para alcançar a paz'


Com a Esposa Sonia e os filhos.

Ao mesmo tempo, ele fez todos os esforços ao longo da sua vida adulta para alcançar a paz  com os nossos vizinhos.
Não é segredo que Shimon e eu éramos rivais políticos, mas, ao longo do tempo, torna-mo-nos amigos, amigos próximos.
Numa das nossas muitas reuniões até tarde da noite na residência presidencial, perguntei-lhe: "Diga-me, Shimon, em toda a sua longa carreira, quais são os líderes israelitas que mais admira?".


Com David Ben-Gurion.


Antes que ele conseguisse responder-me, eu disse: "O primeiro é óbvio. Você estudou aos pés de Ben-Gurion". Porque, na verdade, quando era jovem, Shimon viu como Ben-Gurion forjou a nossa liberdade e tomou nos seus ombros a responsabilidade de construir Israel e garantir o seu destino.

Mas na mesma conversa, ele também falou sobre Rabin, Begin, e outros líderes, com genuíno apreço pelas suas contribuições únicas para o nosso Estado.
Então ele surpreendeu-me um pouco, quando também mencionou uma outra pessoa - Moshe Dayan.
Shimon falou sobre valor de Dayan no campo de batalha, sobre a sua originalidade, e sobre uma outra característica. "Moshe nunca se importou com o que pensavam sobre ele", disse-me Shimon.

"Dayan ignorava completamente considerações políticas. Ele era o que ele queria ser".
Shimon apreciava essas qualidades, mas também sabia de uma outra verdade - que, se desejarmos realizar as coisas em que acreditamos, os nosso objectivos diplomáticos, económicos e sociais, então não podemos desligar-nos da política.

 Com David Ben-Gurion e Moshe Dayan.

'Tensão inerente entre Estadista e Político'

E, no entanto, nos 50 anos em que ele serviu no Knesset e no governo, Shimon viveu naquela tensão inerente entre diplomacia e política.

Ele voou nas asas da sua visão, mas sabia que a rota passa pelo campo rochoso da política.
Ele era capaz de fazer tudo isso, de ser atacado, de cair e voltar a erguer-se, vez após vez, graças à sua paixão pelo activismo e pelos ideais.
O meu primeiro encontro com essa paixão, foi aqui, nesta mesma colina, há mais de 40 anos.
Dois dias após a ousada operação de resgate em Entebbe, em que o meu irmão deu a sua vida, o funeral de Yoni foi realizado aqui.
Como ministro da Defesa, juntamente com o primeiro-ministro Yitzhak Rabin, Shimon confirmou a operação.
No funeral, ele proferiu um elogio profundamente comovente, que eu nunca vou esquecer.
Foi a primeira vez que o vi.
Os meus falecidos pais, o meu irmão e eu, estávamos profundamente comovidos com o que ele disse sobre Yoni, sobre a operação, sobre o vínculo com os  nossos antepassados, e sobre o orgulho na nossa nação.


 Yoni Netanyahu

Daquele ponto em diante, uma ligação especial formou-se entre nós.

Shimon e eu discordámos sobre muitas coisas, mas essas divergências não ofuscaram as nossas muitas discussões calorosas e cordiais.
A nossa amizade aprofundou-se em cada reunião.
No entanto, nunca disfarçámos as nossas diferenças de opinião.
Numa das nossas discussões noite adentro, abordámos uma questão fundamental: do ponto de vista de Israel, o que é primordial - a segurança ou a paz?
Shimon entusiasticamente respondeu: "Bibi, a paz é a verdadeira segurança. Se não houver paz, não haverá segurança".
E eu respondi-lhe: "Shimon, no Médio Oriente, a segurança é essencial para alcançar a paz e para mantê-la."
O debate intensificou-se.
Ficámos durante horas a atirar argumentos um ao outro.
Ele veio da esquerda, eu vim da direita.
Eu vim da direita, e ele voltou para a esquerda.
E no final - como dois lutadores profissionais desgastados - nós pendurámos as luvas.

Eu vi nos olhos dele, e acho que ele viu nos meus, que os nossos princípios resultam de crenças profundas, enraizadas no nosso compromisso com a nossa causa - assegurar o futuro de Israel.


Benjamin Netanyahu na Operação Entebbe 


'Ambos estávamos certos'
Meus amigos, sabem a que surpreendente conclusão que cheguei com o passar do tempo?
Nós dois estávamos certos.
Num turbulento Médio Oriente, em que só os fortes sobrevivem, a paz não será alcançada senão pela manutenção permanente do nosso poder.
Mas o poder não é um fim em si mesmo.
É um meio para um fim.
Esse objectivo é garantir a nossa existência nacional e a co-existência.
Para promover o progresso, a prosperidade e a paz - para nós, para as nações da região, e para os nossos vizinhos palestinos.

'Nenhum campo tem o monopólio da verdade'

Shimon também chegou à conclusão de que nenhum campo político tem o monopólio da verdade.
No dia após a sua tomada de posse como 9º presidente de Israel, ele participou na cerimónia memorial oficial por Ze'ev Jabotinsky, que considero um dos meus mentores espirituais. 
Dirigindo-se à audiência, Shimon disse: "A História deu às duas principais correntes do Sionismo - o movimento operário e o movimento Jabotinsky - a tarefa de construir o empreendimento Sionista. As muitas lacunas entre esses dois campos têm diminuído em muitas questões. Os adeptos dessas correntes são hoje parceiros, nos partidos políticos e na liderança do Estado - algo que era inconcebível no passado distante". 
"Parece", Shimon concluiu, "que o Rei Salomão estava certo. Melhor é serem dois do que um".
No final do seu discurso, aproximei-me dele, apertei-lhe a mão e agradeci-lhe calorosamente a mensagem unificadora. 
Nove anos mais tarde, há dois meses, a minha Esposa e eu viemos honrar Shimon na abertura do "Centro Peres para a Inovação".

Nanotecnologia e tecnologia médica, neurociência e engenharia da computação, satélites e robótica, tudo estava em exposição.
Shimon irradiava orgulho. Eu acho que nunca o tinha visto tão feliz.
Foi a realização de um dos seus sonhos.
Ele colocou um par de óculos 3-D sobre os olhos - os mesmos olhos cujas córneas foram doados para o benefício da próxima geração.
Nada poderia ser mais simbólico.
Shimon sempre olhou para o futuro. Ele acreditava, como nós acreditamos, no progresso, na ciência e na tecnologia.
Eles têm o poder de reforçar a nossa segurança, bem como de estabelecer as futuras bases para a paz.
Se alimentarmos essas capacidades e agirmos resolutamente contra os inimigos do progresso, a modernidade triunfará sobre a barbárie, o Bem prevalecerá sobre o Mal, e a luz derrotará a escuridão.
Shimon, meu amigo, você disse que uma das poucas vezes em que derramou uma lágrima foi quando ouviu a trágica notícia da morte de meu irmão Yoni em Entebbe.
Você chorou, Shimon. E hoje, eu choro por si.
Eu amei-o. Nós todos o amamos.
Esteja em paz, Shimon, caro amigo, grande líder.
Vamos honrar a sua memória, no coração da nossa nação e - posso dizer com confiança - no coração de todas as nações".
 

Cortesia: Israel Government Press Office via UNITED WITH ISRAEL. Tradução nossa.

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