sexta-feira, 8 de maio de 2020

COVID-19: Teorias da conspiração e antissemitismo


Como aconteceu com a Peste Negra, algumas pessoas estão a usar os judeus como bode expiatório, culpando-os pelo coronavírus.

É uma história que remonta há séculos. Ocorre uma crise e logo surgem teorias da conspiração, oferecendo explicações à medida. E frequentemente, os judeus são acusados. O mesmo aconteceu durante a pandemia do COVID-19.

A Peste Negra do século 14 matou dezenas de milhões em toda a Europa. Para muitos, foi mais conveniente culpar os judeus - e matar milhares, de Barcelona a Frankfurt - do que entender a Ciência.

O motivo antissemita básico é geralmente o mesmo. Acredita-se que os judeus possuem poder demoníaco e más intenções. Pequenos em número, talvez, mas os judeus estão globalmente conectados e agem como um. O objectivo? Serem mais espertos do que os não-judeus, obterem riqueza e poder e controlar o destino do mundo.

O absurdo inerente dessas crenças não importa para os antissemitas.


Assim, os judeus podem ser acusados ​​simultaneamente de promover o capitalismo e o comunismo - duas ideologias diametralmente opostas.


Os infames "Protocolos dos Sábios de Sião", uma falsificação de 1903 da autoria da polícia secreta da Rússia czarista, afirmavam que os judeus buscavam domínio global. Na realidade, logo que o livro saiu, os judeus russos encolheram-se nos seus guetos, com medo da próxima onda de 'pogroms' sancionados pelo Estado.

Adolf Hitler atribuiu poderes demoníacos aos judeus. Ele culpou-os pela derrota da Alemanha na Primeira Guerra Mundial, pela sua suposta humilhação nos termos do Tratado de Versalhes e por sabotarem o Nacional Socialismo. A realidade, no entanto, era que os judeus da Europa eram impotentes, alvos de genocídio e, finalmente, assassinados aos milhões.

Nota do Tradutor: na Primeira Grande Guerra, como em todas as guerras, os judeus alistaram-se em massa, combaterem pelos seus países e bateram os recordes de mortos em combate, em termos proporcionais.
Gravura popular na época, homenageando os judeus  alemães mortos em combate na Primeira Grande Guerra:




Avanço rápido para 11 de Setembro de 2001. Assim que os quatro ataques terroristas ocorreram, os traficantes da conspiração estavam novamente activos. Enquanto muitos judeus estavam entre as vítimas, a Mossad israelita foi responsabilizada. Foi espalhada a mentira de que a Mossad notificou os 4.000 judeus que trabalhavam no World Trade Center para ficarem em casa naquele dia fatídico. Novamente, os judeus eram vistos como interconectados, todos com o objectivo de orquestrar actos monstruosos e atribuir a culpa a outros, neste caso aos árabes.

Agora, durante a crise do COVID-19, as teorias da conspiração estão novamente presentes. O que as torna especialmente perigosas são dois factores:
Primeiro, existe o alcance das plataformas digitais. Entre os que têm acesso a elas, estão pessoas predispostas às teorias da conspiração e que se sentem fortalecidas por elas, assim como os impressionáveis, ​​que podem não ter as habilidades críticas para separar factos da ficção.

Segundo, esta crise global colocou grande parte do mundo de joelhos de uma maneira sem precedentes, colocando em quarentena um grande número, alimentando o desemprego e transferindo mais poder para os governos.

Para os antissemitas, todos os elementos estão alinhados: através de maquinações desonestas, os judeus certamente trouxeram este problema ao mundo para ganharem poder, riqueza e controle.


Que inúmeros judeus morreram por causa do coronavírus, que Israel ficou paralisado ou que empresas pertencentes a judeus enfrentam as mesmas incertezas que todas as outras, são factos comprovados, mas são irrelevantes no mundo das conspirações antissemitas.

A linguagem de Hitler é invocada, inclusive contra o governador de Illinois, J.B. Pritzker, que é judeu, acusando-o de consolidar o poder e restringir a liberdade de outras pessoas. "Arbeit Macht Frei" (o trabalho te libertará), dizia um cartaz de um manifestante, referindo-se às notórias três palavras na entrada do campo nazi de Auschwitz. Um incidente bastante semelhante ocorreu no Colorado envolvendo o governador do Estado, Jared Polis, que também é judeu.


Enquanto isso, o FBI matou um supremacista branco num tiroteio em Kansas City, em 24 de Março, logo depois de ele ter publicado que "esta coisa toda [COVID-19] foi projectada pelos judeus como uma tomada de poder".

Não é de surpreender que, devido ao seu ódio por Israel, a Iran Press TV tenha dito que "os elementos sionistas desenvolveram uma cepa mortal de coronavírus contra o Irão".

Nota do Tradutor: o Irão também acusa Israel, por exemplo, de roubar as nuvens para que não chova no Irão. E não é o Zé da Esquina que o diz, é o Brigadeiro-General Gholam Reza Jalali, da Organização de Defesa Civil do Irão:




Enquanto Israel oferecia ajuda à Autoridade Palestina para combater a pandemia, um passo aplaudido pelas autoridades das Nações Unidas, o Primeiro-Ministro "palestino" Mohammad Shtayyeh, numa entrevista colectiva em 29 de Março, declarou: “Ouvimos testemunhos de que alguns soldados [israelitas] estão a tentar espalhar o vírus pelas maçanetas das portas dos carros". No passado, os judeus eram acusados ​​de envenenar poços. Agora são as maçanetas das portas do carro.


A História mostrou que este tipo de alegação, por mais estranha que seja, pode ter consequências na vida real.


A trivialidade da busca por bodes expiatórios, seja por líderes políticos, grupos ou indivíduos, o poder desenfreado da tecnologia e a raiva incandescente de alguns para com as mudanças drásticas nas suas vidas, é potencialmente tóxica. As suas possíveis consequências não devem ser subestimadas.



https://www.aish.com/ci/s/COVID-19-Conspiracy-Theories-and-Anti-Semitism.html?s=mm
- Via AISH; este artigo foi publicado originalmente no Jerusalem Post.

- Um dos motivos para as matanças de judeus durante a Peste Negra foi que morriam proporcionalmente menos judeus do que outras pessoas. Daí, as pessoas "concluíram" que os judeus envenenavam os poços, o queijo e o azeite. E daí às queimas de judeus em praça pública foi um passinho.




Na verdade, morriam menos judeus porque a lei judaica (que era estritamente observada na época) exige lavagem de mãos ritual antes das refeições, banho ritual e outras medidas de higiene que antigamente não eram praticadas pela restante população europeia (basta que nos lembremos das famosas histórias de Reis que só tomavam banho no dia do casamento).

- Este post foi publicado no AMIGO DE ISRAEL 2.0, que é o nosso blogue principal agora, depois de este ter sido atacado em massa  pelos trolls do Bloco de Esquerda e aliados.

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